ESSE TIO ERA O PAI QUE EU NÃO TIVE
Aqui está meu tio Amâncio, irmão de minha mãe, aquele que me acolheu como filha, sim porque minha mãe, viúva aos 21 anos com um bebê de 8 meses (eu), voltou para a casa de sua mãe, vovó Ermelinda.
Tio Amâncio, de lindos olhos azuis e cabelos louros, ainda garoto praticamente, assumiu a fazenda de gado e café, por ocasião do falecimento de seu pai, vovô Joaquim.
A isso eu chamo de bravura indômita! Tão jovenzinho e com tanta responsabilidade, as quais cumpria a rigor, sem vacilar, sem se cansar. Ele cuidou de três viúvas: minha bisavó, minha avó e minha mãe.
Além dele, havia mais dois irmãos e sete mulheres.
Tio Amâncio tinha muita afinidade com minha mãe. Vaidoso, na montaria, não faltava nenhum detalhe; parecia um verdadeiro gaúcho. Ela costurava-lhe as bombachas, cheinhas de detalhes, casinha de abelha, bolsinhos. Ele levava e buscava boiada de longe. Quando ele chegava, nós corríamos para vê-lo,, mas era a mim que ele tomava nos braços e me erguia lá no alto. Um dia ele fez isso na porta e eu cheguei a bater com a cabeça no batente. Foi um Deus nos acuda!
Era muito ajuizado, tanto que foi comprando as fazendinhas ao redor da dele, que eram dos tios dele, os italianos bigodudos e muito bravos.
Prosperou muito, era muito respeitado no patrimônio. Ele tinha esse carro de boi que ouvíamos ao longe o seu cantar, por causa dos furos que haviamm naquelas rodas de madeira maciça. Aquele prédio era o colégio da cidadezinha ou patrimônio. Infelizmente, foi derrubado para ser construída a prefeitura.
Muito alegre,sorridente e falador, vivia cantarolando as músicas sertanejas. Como ele gostava de passear e viajar! Era impressionante como ele visitava parentes que moravam longe! E eu sempre junto!!! Era um rito! Se importava muito com todos da família. Tanto que na sua cabeça ele queria poupar e a todos proteger. Errou aí, não delegando serviços de maiores responsabilidades para seus dois irmãos que continham suas frustrações e rebeldia, mas se calavam e o respeitavam.
Com os desmandos dos governos, com as quedas do preço do café e gado, com perdas das intempéries, que iam se acumulando, meu tio vendeu a fazenda e terminou seus dias no patrimônio. Foi levado por um câncer. Sinto falta dele e muita, mas o vazio no meu ser continua. Queria tanto poder sentir o que é ter um pai!
Eu quero o meu pai!
(Foto: minha mãe e meu pai Gabriel.)
E na minha varanda, minha mesa de centro, legítima roda de carro de boi.
retratando a lembrança de que um dia um carro de boi fez parte importante da minha infância.
Rogo a Deus por todos os papais nesse dia especialmente dedicado a eles.
Feliz Dia dos Pais!